terça-feira, novembro 27, 2007

 

Descoberta em trilha sonora


Wreckless Eric é um sujeito quase desconhecido para a maioria das pessoas, mas tem uma canção que chama bastante a atenção na trilha sonora do filme "Mais estranho do que a ficção", dirigido por Zach Helm.
O filme tem uma trama inusitada, que beira o absurdo, lembrando bastante os roteiros de Charlie Kaufman (O brilho eterno de uma mente sem lembranças) com uma boa dose de humor, no estilo de Woody Allen, onde o protagonista Harold Crick, interpretado por Will Ferrell, começa a ouvir uma voz que narra a sua própria história e através dela, fica sabendo que está para morrer.
Sua vida monótona, que até então é totalmente ditada pelo relógio e por números, tem uma reviravolta, na busca por uma explicação do que está acontecendo com ele.
Em uma das cenas mais marcantes do filme, Harold toca "Whole wide world" ao violão e provoca uma reação intensa da garota pela qual ele se sente atraído e mostra o verdadeiro poder que uma música pode ter, quando expressa algum significado para quem a ouve.
A música é bem simples, com uma letra quase ingênua e o vocal rasgado de Wreckless Eric, chegando a parecer um pop romântico de garagem, se é que isso existe.
Diferente de Harold, que tem habilidades especiais com números, faz cálculos complexos de cabeça, eu já perdi a conta de quantas vezes ouvi essa canção, desde que assisti ao filme.
Só sei que ela não sai da minha cabeça, assim como a voz que persegue o personagem durante todo o filme.

domingo, novembro 18, 2007

 

A minha Bíblia


1001 discos para ouvir antes de morrer é uma publicação de 960 páginas, que faz uma seleção comentada por 90 críticos internacionais, dos melhores álbuns gravados desde os anos 50 até a atualidade.
Muito mais do que um guia de compras, o livro permite aos musicadictos saciarem seu vício por conhecer artistas e discos que possam integrar a trilha sonora de suas vidas.
Numa época em que se tornou muito fácil pegar músicas gratuitamente na Internet, onde um universo quase que ilimitado de artistas estão à disposição do internauta a apenas um clique no mouse, ter boas referências já é uma grande vantagem.
Desde os grandes ídolos como Elvis e Sinatra, aos nomes mais obscuros como The Monks (não confunda com The Monkees) e The Bees, percorrendo os mais diversos estilos do Blues ao Heavy Metal, da Soul Music à Psicodelia, de Miles Davies a Dead Kennedys, o supra sumo da produção musical está contida nas páginas desse livro, organizado em ordem cronológica dos lançamentos.
Quando o encontrei na prateleira de uma livraria e comecei a foleá-lo, percebi que muitos discos eu já conhecia, faziam parte dos meus preferidos, mas que ainda tinha muito mais para conhecer e acabei não resistindo à tentação de comprá-lo.
Além das dicas, que são devidamente contextualizadas historicamente, a repercussão de cada lançamento em sua época, ainda há fotos raras e impagáveis, como a do Iggy Pop em uma de suas apresentações alucinadas com os Stooges, sendo erguido pelo público de seu show, com seu jeans todo rasgado, sem camisa e com uma expressão de total lisergia em seu rosto.
Agora, que estou prestes a completar 37 anos e sinto a vida entrando na sua contagem regressiva, percebo que ainda estou longe de ter ouvido todas essas obras sensacionais selecionadas em 1001 discos para ouvir antes de morrer.
Só espero ainda viver muito para poder conhecer boa parte delas, pois para mim, descobrir um disco que seja muito bom de se ouvir e que posteriormente se torne marcante em minha vida, é uma das coisas que mais me dá prazer e me deixa feliz. Por essa perspectiva muito particular, considero esse livro um manual de auto-ajuda.

Título: 1001 discos pra ouvir antes de morrer
Editora: Sextante
Autor: Robert Dimery
Páginas: 960
Preço médio: R$ 60

terça-feira, novembro 13, 2007

 

O festival que foi um verdadeiro show




O Festival do Planeta Terra deu um verdadeiro show de organização, infra-estrutura e teve ótimas atrações, que agradaram em cheio. Ingresso a um preço bem acessível, sem aquelas filas quilométricas para entrar, pontualidade nos shows, facilidade para pegar bebidas e para usar os banheiros.

O local ajudou bastante, pois os galpões Solvay na realidade eram um parque industrial, com um amplo espaço devidamente adaptado para o evento e acabou acomodando muito bem o público, que ficou disperso pelas diversas tendas, tendo o Main Stage voltado às principais bandas, o Indie Stage para as bandas em ascensão e o DJ stage, como diz o nome, espaço reservado para os adeptos das Pickups fazerem a alegria da galera da ferveção, que curtem Psy-Techno-Electro e afins.

Quando eu cheguei estava terminando o show do Pato Fu, então fui dar uma conferida no Indie Stage, onde estava se apresentando o Tokyo Police Club, que tocava para os poucos presentes, que assim como eu, ainda chegavam ao Festival. Sem empolgar muito, mas também sem desagradar, era apenas um grupo internacional desconhecido por aqui, se apresentando para uma platéia indiferente.

Peguei umas fichas de breja e fui ver o Instituto prestar a homenagem ao grande Tim Maia, fazendo um tributo ao cultuado disco “Racional” vol. I e II.

E foi uma emoção indescritível ouvir aquelas músicas, que seguiram fielmente os arranjos originais, em um palco que reunia vários nomes conhecidos da música brasileira, como B Negão, Pupilo (batera da Nação Zumbi), Peu (Ex-guitarrista da Pitty), Hugo Hori (Karnak, Funk como Le Gusta), Negra Li, Carlos Dafé entre outros convidados.

Nesse momento histórico, o público entoava as canções clássicas, como Imunização Racional (Que beleza), Bom Senso (nessa a cantora Negra Li não conteve a emoção e derramou algumas lágrimas enquanto cantava), O caminho do Bem, You don’t know what I know, em total sintonia com os músicos do palco, fazendo a noite se tornar muito especial, em uma homenagem que faria Tim Maia se orgulhar.

Acabando o show do Instituto, era hora de voltar ao Indie Stage para ver o Datarock. Sinceramente eu não esperava muito deles, mas não é que esse duo Norueguês fez um dos shows mais animados do palco Indie? A essa altura, o Festival começava a lotar e o público já estava bem aquecido. Foi a deixa para o Datarock botar a galera para dançar, com sua new rave regada a eletrônica. Pena que consegui assistir apenas ao final do show, que se encerrou com a cover de “I’ve had the time of my life”, música da trilha sonora de Dirty Dancing, aquele filme cafona dos anos 80...Nada a ver, né? Mas fez sentido naquele contexto, galera cantando junto, em clima de descontração geral, entregue à diversão, afinal, todos ali foram para se divertir.

De volta ao Main Stage, embora contrariado, assisti um pouco do show da Lily Allen, que confesso, não me agradou muito, a não ser quando ela cantou “Gangsters”, uma cover esperta da banda Specials, clássico absoluto do Ska made “Two Tone”, mas o resto do show foi morno, quase frio.

Ao contrário do show do Cansei de Ser Sexy, que teve uma ótima receptividade do público paulistano, que adora falar mal de Lovefoxx e sua turma, mas depois dessa bem sucedida empreitada da banda no exterior, que arrebanhou fãs na Europa e nos Estados Unidos, tiveram uma boa acolhida por aqui desta vez.

Aí então veio o grande momento do Festival; O Show do Devo. Nos telões, projeções de vídeos da banda, com uma abertura que aguçou ainda mais a expectativa de quem estava lá para conferir a performance dessa banda com mais de 30 anos de carreira.

E foi simplesmente sensacional ver aqueles tiozões cinquentões, de macacões amarelos e capacete vermelhos, tocando verdadeiras pérolas da new wave, como Whip It, Peek-a-boo, Satisfaction, Mongoloid, mostrando que estão em ótima forma, com suas coreografias robotizadas, numa performance altamente pirada, em meio a um show de luzes espetacular, deixando o público em estado de transe coletivo.

Emocionante é pouco para descrever a sensação que todos sentiam naquele momento. Até houve invasão de palco, de Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu, que aproveitou a troca de roupa dos integrantes do Devo para pegar um Macacão como lembrança desse show.

Depois disso...O que o Kasabian poderia fazer para que ninguém ficasse indeferente à sua apresentação? Tarefa dificílima...

Entraram tocando Shoot to runner, com bastante gás, emendaram Reason is Treason e vários hits do primeiro disco, como Processed Beats, L.S.F., Club Foot, pode-se dizer que fizeram um show tecnicamente perfeito, o vocalista até que se emocionou bastante com a reação da platéia, agradeceu bastante no final do show, mas depois do Devo não havia nada que eles pudessem fazer em cima do palco para superar a apresentação dos veteranos.

Era a banda certa, tocando em momento errado...

Mesmo assim, foi um grande evento, onde no final se via a alegria estampada no rosto das pessoas, que ficaram satisfeitas com a organização, com os shows e com o respeito que todos que pagaram o ingresso merecem. Que venham outros festivais do Planeta Terra!

Em tempo: Não esqueci de falar do show do Rapture, é que esse eu não consegui ver.



quinta-feira, novembro 01, 2007

 

Porcas Borboletas- Um carinho com os dentes


Subversivos? Anárquicos? Irreverentes? Poetas? Tudo isso e muito mais...

É uma experiência um tanto surpreendente ouvir o disco de estréia do Porcas Borboletas, grupo mineiro, da improvável cidade de Uberlândia (Improvável porque é o lugar de onde menos se espera que fosse aparecer um grupo com uma proposta tão diferenciada).

A Banda existe há 7 anos e já é bem conhecida do público que acompanha os grandes festivais de Rock pelo país, por onde já tocaram e chamaram atenção por suas performances incendiárias e irreverentes, cortesia de Enzo Banzo (Guitarra/vocal), Danislau Também (vocal-percussão), Moita Mattos (Guitarra), Rafa Rays (baixo), Vi Vicious (Bateria) e Ricardim (Voz/percussão).

Pode-se dizer que é uma banda de rock, pois as guitarras estão presentes em quase todas as 16 faixas de “Um carinho entre os dentes”, mas a criatividade deles vai muito além disso.

Há uma diversidade musical que varia da MPB de vanguarda, ao samba-canção, com improvisações jazzísticas, psicodelia, tropicalismo e o que mais der na telha dessa trupe maluca, que utiliza uma linguagem debochada, sem cair na esculhambação de grupos engraçadinhos, em composições que valorizam a poesia marginal de Danislau e Enzo.

“Vernissage”, a primeira faixa do CD, mostra um som fragmentado, totalmente fora dos padrões convencionais, com uma letra inusitada, carregada de “mineirices” como “Vim atrás do vin (Vinho), mas vin que é bão não vi/ Que que cê vei vê? / Vernissage”.

Em Santa Manca há um riff de guitarra à la Black Sabath e um vocal alucinado, extravasando todo o tesão incontido por “Aquela menina”.

O lado festeiro da banda surge em “Cerveja”, que nos brinda com a sabedoria de versos como “é melhor dizer: Amor acabou a cerveja / Do que chorar, Cerveja acabou o amor” e também em “Lembrancinha” onde um jovem demonstra seu descontentamento em ganhar um tênis dos pais e manda essa: “Ah, se eu pudesse escolher, eu preferia um Nike”.

A parceria com Arnaldo Antunes em “Eu”, resulta em uma das mais belas canções do disco.

Interessante também é a (des)construção de “C’antiga”, feita em cima de uma ladainha de capoeira de Angola, citada por Caetano Veloso em “Triste Bahia”, que os Porcas Borboletas adaptaram genialmente e imprimiram a sua marca pessoal.

O disco pode ser ouvido no site da banda www.porcasborboletas.com.br – Vale muito a pena conferir.

Recomendado para quem gosta de Mutantes, Novos Baianos, Tom Zé, Itamar Assumpção, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A.


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